Educação em tempos de pandemia: desigualdade social ainda mais em evidência

Williane Marques de Sousa
Publicado em: qua, 24/03/2021 - 09:38

A pandemia do coronavírus trouxe mudanças em todas as áreas para toda a população mundial e a educação não ficou de fora. Com a imposição de decretos de isolamentos sociais, as escolas tiveram que fechar as suas portas, mantendo assim os alunos distantes das salas de aulas. O site SAE Digital (1) informou, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que a pandemia da COVID-19 já impactou os estudos de mais de 1,5 bilhão de estudantes em 188 países – o que representa cerca de 91% do total de estudantes no planeta.

Instituições de ensino, professores e alunos tiveram que entrar rapidamente em um processo de adaptação e buscar meios viáveis para dar continuidade ao processo de aprendizagem. A alternativa foi “abraçar” o ensino a distância, e a tecnologia teve um papel fundamental nesse processo de mudança através das aulas e atividades remotas no ambiente virtual. Por mais que o ensino a distância tenha inúmeros benefícios, principalmente no mundo atual, mudar repentinamente do ensino presencial para o ensino online não foi nada fácil, e muitos alunos se sentiram prejudicados.

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Dentro os desafios surgidos nessa nova forma de ensino, podemos citar um dos principais e mais evidentes: o despreparo das escolas, dos professores e dos alunos em relação às atividades online. A maioria das escolas de ensino fundamental e médio não conta com o suporte tecnológico necessário para oferecer o ensino à distância, suporte este que é mais frequente em instituições do Ensino Superior. Fora isso, poucos são os professores capacitados para lecionar a distância, afinal, o ensino online requer ferramentas e dinâmicas totalmente diferentes das do ensino presencial. Por fim temos os alunos: milhares de crianças e adolescentes tiveram que se disciplinarem e forjarem uma rotina de estudos totalmente diferente da que tinham antes.

Pensando na dificuldade desses alunos e buscando amenizá-la, vários sites publicaram diversas dicas para ajudar tais alunos a darem continuidade aos seus estudos da melhor forma possível. O site Guia do Estudante, por exemplo, publicou sete dicas para estudar em casa e não perder o ritmo, dentre elas, cabe-se destacar:

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• Manter uma rotina: acordar cedo, vestir-se adequadamente, tomar o café da manhã no horário normal e focar nas atividades seguindo os conteúdos programáticos que seriam trabalhados em sala de aula, ou seja, seguir a mesma rotina que você tinha com as aulas presenciais. É uma dica válida e importantíssima e ajuda a manter o ritmo de estudos.
• Ter uma rede de apoio: manter contato com os colegas de classe, em um grupo de WhatsApp, por exemplo, é fundamental para trocar informações e tirar dúvidas relevantes uns com os outros. Pedir ajuda aos familiares também é muito importante.

Veja essas e outras dicas no curso online:

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Porém, infelizmente essas dicas não são eficazes para todos os estudantes brasileiros, visto que alguns deles, principalmente os da rede pública, sequer possuem o equipamento necessário para acompanhar as aulas e as atividades online. O site Agência Brasil (2) comentou um estudo que reúne pesquisas sobre a educação na pandemia e uma delas mostra que, três meses depois do início da suspensão das aulas presenciais em março de 2020, ainda havia cerca de 4,8 milhões de estudantes, o equivalente a 18% do total de alunos do ensino fundamental e do ensino médio da rede pública, que não teriam recebido nenhum tipo de atividade, nem por meios eletrônicos, nem impressos. Além disso, mais de quatro em cada dez estudantes, o equivalente a 42%, não teriam, segundo seus familiares, equipamentos e condições de acesso adequados para o contexto da educação não presencial.

O site SAE Digital (3) – já citado anteriormente – mostrou que uma pesquisa do IBGE constatou que apenas 57% da população do nosso país possui um computador em condições de executar softwares mais recentes. Outro estudo realizado em 2018, a Pesquisa TIC Domicílio, aponta que mais de 30% dos lares no Brasil não possuem acesso à internet, que é praticamente indispensável para o serviço de ensino remoto. Isso só coloca ainda mais em evidência a desigualdade social que já existia aqui no Brasil muito antes do início dessa pandemia. Enquanto uns alunos de classe superiores possuem um espaço adequado para estudos, notebooks, acesso a livros e internet de ótima qualidade, outros sequer possuem um aparelho eletrônico para acompanhar as aulas.

O direito a educação é assegurado para todos os cidadãos e está positivado na nossa Constituição no seu Art. 6° como um direito social, logo, é dever do Estado, mediante políticas públicas, atuar para que esse direito seja alcançado por todos. Logo, é de extrema importância que o Legislativo elabore leis que assegurem o acesso à internet e a aquisição de aparelhos eletrônicos aos alunos de baixa renda para manter o fluxo educacional enquanto as aulas ocorrerem de maneira remota. É importante também que os alunos contem com a ajuda e a compreensão dos seus professores e familiares, a fim de que estes não desanimem ainda mais em relação aos estudos, evitando, assim a evasão escolar.  O fato é que o cenário atual requer a adaptação a esses tipos de mudanças, mas também se faz necessário um apoio maior aqueles que não possuem as mesmas oportunidades e recursos que os demais. Nestes casos, vemos a igualdade material em ação: tratar os iguais com igualdades e os desiguais na medida das suas desigualdades.

Williane Marques de Sousa
Estagiária da Unieducar – Estudante de Direito

REFERÊNCIAS:
https://sae.digital/educacao-e-coronavirus/
https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2021-02/estudo-reune-p...
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

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