O Inspetor Escolar como Facilitador da Aprendizagem no Ensino Fundamental

Maria Cristina Pinheiro dos Santos
Publicado em: ter, 12/11/2019 - 00:00

O Inspetor Escolar tem a função de integrar a escola com as normalidades e legislações que fazem parte da documentação de uma unidade escolar. Seu principal papel é articular com a equipe diretiva, para fazer valer a organização dentro do setor da secretaria escolar, no que diz respeito à vida escolar dos discentes, do corpo docente e de todos os funcionários. Entretanto, o Inspetor Escolar também exerce papel fundamental no processo de aprendizagem, tendo em vista a sua atuação junto ao corpo docente, no sentido de avaliar o desempenho dos alunos. Desta forma, vale a pena ressaltar a sua contribuição para que haja um avanço na qualidade do ensino e o desenvolvimento na vida escolar do aluno.

O Inspetor Escolar, enquanto agente educador, precisa levar em consideração a realidade social da escola onde trabalha para diagnosticar qual seja a identidade da instituição de ensino e desenvolver um trabalho que possibilite ao educando vislumbrar novos horizontes. Significa dizer que é necessário desempenhar suas funções e ideais, de modo a integrar a comunidade escolar. Para que isso aconteça, um dos critérios básicos é avaliar a competência dos professores em relação ao processo de ensino e aprendizagem e o desempenho dos alunos quanto ao índice de aprovação e reprovação. Sendo assim, surge o seguinte questionamento: Sendo o Inspetor Escolar um profissional da educação, qual seria sua participação no sentido de identificar as condições e critérios avaliativos presentes na comunidade escolar em que atua? Trata-se de relacionar o papel do Inspetor Escolar como participante no processo de avaliação na vida do aluno juntamente com todos os educadores da unidade de ensino para tomada de decisões e identificação dos métodos avaliativos.

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A concepção de avaliação é, sobretudo, as concepções de conhecimentos, de ensino, de educação e de escola. Cabe aos profissionais de educação, não só o professor dar o veredicto, mas também a Inspeção Escolar e toda equipe pedagógica sobre a vida escolar do aluno. Segundo Luckesi (2002), ``é certo que o atual exercício da avaliação escolar não está sendo efetuado gratuitamente, está a serviço de uma concepção teórica da educação, que por sua vez traduz uma concepção teórica da sociedade.``

A concepção de avaliação que perpassa essa lógica deve abranger a organização escolar como um todo: as relações internas à escola, o trabalho docente, a organização do ensino, o processo de aprendizagem do aluno e, ainda, a relação com a sociedade. Conforme afirma Luckesi (2005): “a avaliação da aprendizagem escolar auxilia o educador e o educando na sua viagem comum de crescimento, e a escola na sua responsabilidade social. Educador e educando, aliados constroem a aprendizagem, testemunhando a escola, e esta à sociedade”. A avaliação escolar é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem. Através dela, os resultados que vão sendo obtidos no decorrer do trabalho conjunto de toda a comunidade escolar são comparados com os objetivos propostos, a fim de constatar progressos, dificuldades, e reorientar o trabalho para as correções necessárias. A avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos.

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1. A AVALIAÇÃO ESCOLAR SOB O OLHAR DO INSPETOR ESCOLAR.

A avaliação da aprendizagem envolve e diz respeito diretamente a dois elementos do processo: educador e educando. O processo avaliativo é sempre de caráter singular no que se refere aos alunos, uma vez que as posturas avaliativas inclusivas ou excludentes afetam seriamente os sujeitos educativos. Mesmo que o educador trabalhe com muitos alunos, sua relação, no processo avaliativo, estabelecer-se-á de forma diferente com cada um deles. Por meio da ação mediadora, da tomada de decisão, ele estará afetando vidas e influenciando aprendizagens individuais. É muito importante que o professor discuta seus instrumentos, métodos e procedimentos de avaliação junto com a equipe que compõe a escola. O professor precisa ser avaliado também sobre as avaliações que realiza, pois a prática pedagógica é social, e todos estão inseridos neste contexto, tanto a equipe de trabalho da escola e a rede educacional como um todo. A avaliação deve, portanto favorecer o desenvolvimento da capacidade de apropriar os conhecimentos científicos, sociais, tecnológicos e ser resultante de um processo coletivo de avaliação diagnóstica. Por isso, a avaliação de um aluno deve ser global, deve levar em conta um conjunto de critérios, não por disciplina, mas por meios que proporcionem ao aluno a capacidade de continuar aprendendo.

Para que a aprendizagem aconteça de forma efetiva, é necessário mudança de comportamento e ampliação cada vez mais no potencial do educando, é importante que ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida. O aluno precisa ser capaz de reconhecer as situações em que aplicará o novo conhecimento ou habilidade. Uma aprendizagem mecânica, que não vai além de simples retenção, não tem significado para o aluno. Quando um educador respeita seu aluno como sujeito da própria formação, curioso, autônomo, motivado para aprender, cidadão do mundo, ele desenvolve a capacidade de procurar dentro de si mesmo as respostas para os seus problemas, tornando-o responsável e consequentemente, agente do seu próprio processo de aprendizagem. Entretanto, em pesquisa desenvolvida anteriormente, Dalben (1998), detectou dificuldades para a construção desse novo olhar sobre o fenômeno educativo, sendo esse um dos problemas centrais no processo de implementação de políticas dessa natureza. A mudança de paradigmas exige a incorporação de novas atitudes e de novos valores para a construção de uma nova mentalidade educacional e de uma outra perspectiva para a educação. Essas modificações situam-se no campo da ética e dos valores socialmente construídos e exigem, na verdade, uma mudança de padrões culturais.
A escola cumpre uma função social de preparar os alunos para uma prática humanitária no meio em que ela vive e no mundo do trabalho. Sendo a avaliação escolar uma parte do processo geral de educação, ela deve também contribuir para a concretização dos objetivos propostos pela escola.

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Dentro de uma concepção pedagógica de valorização, a educação é concebida como experiência de vivência multiplicada e variada. Tendo em vista estes conceitos, a ação do Inspetor Escolar torna-se muito útil na aprendizagem do educando. Nessa abordagem de entendimento, o Inspetor é um ser que participa da construção de conhecimento do aluno juntamente com toda equipe escolar. Para Luck et al (2001, p. 19), ``um ambiente estimulador é aquele em que existem ações efetivas: criar uma visão de conjunto associada a uma ação de cooperativismo; promover um clima de confiança; valorizar as capacidades e aptidões dos participantes; desenvolver a prática de assumir responsabilidades em conjunto``. Assim, a avaliação assume uma dimensão orientadora, calcada na experiência de cada um, seja do orientador, professor, inspetor, a fim de que o ensino e a aprendizagem aconteçam da melhor forma possível. O trabalho do Inspetor Escolar, neste contexto, tem uma rica contribuição, principalmente pelo vínculo que estabelece com todos os participantes desse processo. Significa dizer que representa uma forma de mediação sociocultural, permitindo o resgate no interior do trabalho escolar, da dimensão de produção coletiva do conhecimento e da realidade.

Portanto, a contribuição do Inspetor nesse processo é a de desenvolver juntamente com a equipe da escola, um projeto de educação comprometido com o desenvolvimento de capacidades que permitam intervir na realidade para transformá-la. Na ação de educar, educadores e educandos estabelecem uma determinada relação com o trabalho que fazem (ensinar e aprender) e a natureza dessa relação pode conter (em maior ou menor medida) os princípios democráticos. ``Toda relação de saber se dá a partir da interação do sujeito com os objetos de conhecimento, da relação com os outros e da relação consigo próprio`` (Charlot, 2000).

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2. A AÇÃO DO INSPETOR ESCOLAR NO ÂMBITO INSTITUCIONAL.

A partir daí, o Inspetor assume um papel importantíssimo que é a integração na elaboração do plano de desenvolvimento da escola bem como o desenvolvimento do projeto político-pedagógico, orientar também na realização de estudos e pesquisas, na capacitação de recursos humanos visando assim à melhoria da qualidade do ensino, orientar e acompanhar processos de criação, organização da escola e também auxiliar na elaboração de documentos necessários para o bom funcionamento do sistema educacional.
A ação do Inspetor nestes aspectos torna-se mais produtiva e qualificada e contribui para que o ensino e a aprendizagem aconteçam de forma dinâmica.
É preciso tomar consciência que formar cidadãos que saibam como viver e ser solidários faz parte do cuidado pedagógico. E o sentido fundamental da ação avaliativa é justamente esse, de transformação.
Existem leis, pareceres, resoluções que regem a organização do ensino nas escolas, existem regimentos e determinações que regem a ação do professor na sala de aula, necessário se faz tomar consciência desse jogo de poder que detém toda essa estrutura. É a partir da ação coletiva e consensual dos professores e equipe escolar que isso poderá acontecer.

Para Freire (1986),

O educador libertador tem que estar atento para o fato de que a transformação não é só uma questão de método e técnicas. Se a educação libertadora fosse somente uma questão de métodos, então o problema seria mudar algumas metodologias tradicionais por outras mais modernas. Mas esse não é o problema. A questão é o estabelecimento de uma relação diferente com o conhecimento e com a sociedade.

É necessário que a escola trabalhe buscando uma prática coletiva, para que os educadores, especialistas, pais e funcionários possam trabalhar juntos e com isso estarem envolvidos com a escola. É necessário ter parceria, isso contribuirá para o desenvolvimento da escola, possibilitando a comunidade uma escola mais participativa, onde cada um deve se comprometer em atuar na sua função com responsabilidade, pensando sempre no coletivo. “A avaliação não deve ser confundida com testes tão frequentes. Estes são instrumentos, meios para se avaliar um aspecto apenas do processo de aprendizagem, ou seja, o produto em relação ao desempenho, tendo em vista determinados conteúdos ou objetivos em termos de progresso ou proficiência. Não podem jamais constituir-se um instrumento de ameaça...”. (PCN, 2000, 1998).
Cabe ao Inspetor Escolar, uma proposta que seja eficaz. E a eficácia será tanto quanto mais estiver voltada para o bem daquele que está aprendendo e para o exercício do conhecimento e pesquisa dos professores. Se for efetivamente colocada em prática, e a avaliação for posta a serviço de quem está aprendendo, ela própria se converterá em meio de aprendizagem.
A Inspeção Escolar está ligada a vários fatores que contribuem com o processo democrático da comunidade escolar, estreitando a ligação entre os vários órgãos do sistema educacional e fazendo cumprir com a legislação vigente. Visa à melhoria do ensino e aprendizagem, para isso tem de levar em conta a estrutura teórica, material e humana da escola.
A figura do Inspetor Escolar desponta como elemento de intermediação associada à ideia de mudanças. Ele deve estar inserido no contexto social da escola, interagindo com todos os atores, e através dessa interação os problemas certamente serão identificados e as ações serão todas em uma mesma direção de forma democrática em uma sociedade multicultural. Assim, o Inspetor Escolar não é mais um fiscalizador, como é entendido com frequência, e sim, um colaborador que se constitui na somatória de esforços e ações desencadeados com sentido de promover e desenvolver a melhoria do processo de ensino e aprendizagem.

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3. O INSPETOR ESCOLAR COMO AGENTE TRANSFORMADOR.

Procuramos dar novo sentido às atividades escolares quando afirmamos que esse processo deve ser dialógico. Queremos reconhecer que a razão é inseparável da emoção quando dizemos que é necessário organizar as prioridades e as ações escolares e educacionais para construir projetos e políticas emancipadoras, que permitam desvelar a realidade, escrever uma nova história com base no resgate, na vivência e no registro das experiências e na interpretação desse registro, que respeitem e considerem a diferença, a diversidade cultural presente na educação e na sociedade. O planejamento dialógico é uma alternativa para que haja uma transformação de fato na realidade educacional. Com a ampliação da comunicação pelo diálogo coletivo e interativo desde a formulação das questões relacionadas, por exemplo, às questões pedagógicas, vai acontecendo um processo de participação, de envolvimento, de troca de ideias, de resgate de cultura e de troca de experiências, de propostas concretas ou concretizáveis, que estimulam o enfrentamento dos problemas e dos desafios apresentados pelo cotidiano. É essa a grande vantagem do planejamento dialógico, organizado, democraticamente sistematizado e voltado para o respeito à autonomia dos sujeitos partícipes do processo de ensino e aprendizagem.

O planejamento dialógico implica uma convivência harmoniosa de pessoas que discutem, decidem, executam e avaliam atividades propostas coletivamente. Com essa convivência, o processo educativo passa a desenvolver efetivamente seu papel transformador, pois na medida em que discutem, as pessoas refletem, questionam e conscientizam-se de problemas coletivos, decidindo por engajarem-se na luta pela melhoria das condições de vida de todos os envolvidos nesse processo.

No contexto escolar o planejamento dialógico caracteriza-se pela busca da integração efetiva entre a escola e a realidade histórico-social, primando pelo inter-relacionamento entre a teoria e a prática. A participação de professores, alunos, equipe técnico-pedagógica e administrativo, bem como dos pais dos alunos, seria o ponto de convergência das ações voltadas para a produção de novos conhecimentos a serem propiciados na escola, tendo como referencial o meio em que se vive.

Para Freire (op. cit),
O diálogo deve ser entendido como algo que faz parte da própria natureza histórica dos seres humanos (...) O diálogo é o momento em que os humanos se encontram para refletir sobre sua realidade tal como a fazem e re-fazem. (...) Através do diálogo, refletindo juntos sobre o que sabemos e não sabemos, podemos, a seguir, atuar criticamente para transformar a realidade.

Significa dizer que o planejamento é etapa intermediária entre o conhecimento teórico construído e refletido nas diversas experiências vivenciadas pelos agentes da educação durante sua formação pedagógica e a ação concreta a realizar. A consciência de que planejamos para a prática e que fazer plano só tem sentido se desencadear a ação, vai mudar a óptica dos planejadores comprometendo-os mais num trabalho personalizado e contextualizado.
Sendo assim, o inspetor escolar pode e deve, através de suas experiências, de seus conhecimentos científicos, ter a intenção de manifestar o desejo de transformar o ensino, mediante estudos e pesquisas já vivenciadas por outras instituições, tomando como exemplo o resultado dos índices de aprovação e o entusiasmo dos alunos no que diz respeito ao engajamento dos projetos e atividades realizadas nas instituições escolares.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesse contexto, o trabalho da Inspeção Escolar constitui assim numa estratégia de ação que não só facilita a assistência preconizada, como também revigora o desenvolvimento da escola como um todo, promovendo e reforçando o ponto de vista de ações integradas. Para isso, é necessária uma mudança de comportamento e ações, não só por parte dos docentes, como também por parte da equipe técnico-diretiva, no intuito de investigar os erros e transformar a realidade educacional. Sendo assim, instituir um espaço participativo entre gestão, equipe técnica e corpo docente periodicamente, seria o primeiro passo a dar em direção a uma nova concepção de ensino, onde todos se expressariam, colocando suas dificuldades e progressos no fazer-aprender. Esse espaço seria fundamental para valorizar também as relações interpessoais, fazendo do ambiente educativo um lugar acolhedor e de trocas de experiências. Criando um clima de confiança e de cooperativismo.

Significa dizer que o Inspetor Escolar deve buscar estratégias de interação com toda a equipe escolar, deve procurar informar, colocar professores em contato com as práticas que estão dando certo. E, assim, acompanhar a caminhada no seu conjunto, nas suas dimensões, porque aprender é um prazer inalienável do ser humano; não dá para ser negociado; não pode ter preço.
Portanto, o foco desse estudo é o papel do Inspetor Escolar como facilitador da aprendizagem, no que diz respeito à motivação de todos os agentes envolvidos no ambiente educativo, buscando constantemente ser flexível em relação aos dilemas do cotidiano e dinâmico na construção e participação de um processo educacional, visando sempre a qualidade do ensino. Pois sua maior preocupação deve ser compreender e estimular o ser humano e as relações interpessoais com o intuito de atingir os objetivos propostos pelo sistema de educação.

REFERÊNCIAS:

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.

CHARLOT, Bernard. Da relação com o saber: elementos para uma teoria. Porto Alegre: Artmed Editora, 2000.

DALBEN, Ângela I. L. de Freitas. Avaliação escolar: Um processo de reflexão da prática docente e da formação do professor no trabalho. Tese de doutorado em Educação. Belo Horizonte: Faculdade de Educação da UFMG, 1998.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 2ª edição. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1986.

LUCK et al. A escola participativa: o trabalho do gestor escolar. Rio de Janeiro: DPGA, 2001.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 2005.

 

Por Maria Cristina Pinheiro dos Santos
Professora de Educação Infantil na Rede Municipal de Iguaba Grande.

 

NOTAS DO EDITOR:

Os links de cursos online constantes no texto foram inseridos pela editoria, como sugestões de capacitação complementar na área de interesse do referido artigo. 

Artigo Publicado em 12 de novembro de 2019.

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