Erros que podem levar grandes investidores à falência

Histórias de milionários que foram à falência são comuns, e não são somente famosos que cometem erros ao administrar as finanças. Pessoas que construíram sua fortuna ao longo de anos de poupança também engrossam essa lista. “Muita gente vendeu a empresa, se aposentou. O patrimônio vai ficando maior e as pessoas acabam comprando ativos que geram depreciação, como consumo”, afirma o diretor da área de gestão de patrimônio da Claritas Investimentos, Claudio Mifano. Entre os itens que satisfazem o prazer, mas em demasia podem trazer prejuízos, estão barcos, casas de luxo e helicópteros.

Comprar “brinquedos” caros em excesso é um dos principais erros cometidos pelos endinheirados, segundo os especialistas. Dá para evitar que esse deslize traga dor de cabeça. “É importante que essa parte não ultrapasse 10% do todo, que é um valor razoável, considerando patrimônios na ordem de R$ 100 milhões, por exemplo. Vemos casos em que as pessoas se animam e chegam a investir 30% nesses ativos”, conta. De acordo com cálculos de Ernesto Leme, responsável pela área de wealth management da Claritas, se uma pessoa tiver cerca de R$ 30 milhões aplicados nesses itens caros, gastará em torno de 20% ao ano desse valor com manutenção e depreciação.

Segundo o diretor executivo da Rio Bravo Investimentos, Paulo Bylik, o consumo de itens caros não precisa ser evitado, desde que os gastos sejam planejados e adequados ao perfil da pessoa. “Para o grande investidor, a melhor forma é decidir qual porcentagem que será destinada para consumo e ter uma política de gastos compatível com o portfólio e a rentabilidade no longo prazo”, diz.

Outro problema comum é a falta de planejamento tributário. Ter aplicações em bancos ou gestores diferentes significa pagar Imposto de Renda separadamente sobre cada uma. “No Brasil, o investidor precisa olhar para a tabela regressiva do IR. A gente dá o exemplo do fundo exclusivo, que reúne todos os ativos financeiros, diminuindo impostos”, destaca Mifano. Nesse caso, se algum investimento mais agressivo der prejuízo, o guarda-chuva serve como proteção, principalmente no aspecto tributário.

Foco na sucessão
Ausência de planejamento sucessório é mais um deslize que acomete muitos investidores de alta renda. “No momento da sucessão, sem planejar, pode haver ruídos na família”, diz Mifano. “Algumas pessoas acham que são imortais. É importante treinar os filhos. Quanto mais os filhos conhecem o mercado financeiro, melhor”, complementa José Eduardo Martins, sócio da gestora de recursos Global Portfolio Strategists (GPS).

Segundo Mifano, da Claritas, o fundo de previdência é um instrumento interessante para alocar os recursos. “Tem a vantagem da taxa de sucessão, que não existe nesse produto”, aponta. Mas ele alerta que a alternativa compensa se a taxa de administração do fundo não for muito alta. Além disso, os planos que completam 10 anos são beneficiados pelo regime progressivo de impostos e passam a recolher 10% sobre o rendimento.

Cuidados
A vontade de engordar ainda mais o patrimônio ao participar de operações de alavancagem no mercado acionário também pode trazer consequências negativas. “O investidor assume uma posição mais arriscada e a perda é potencial nesse tipo de operação. Por isso, é preciso colocar limites de perda”, indica Amerson Magalhães, diretor da Easynvest Título Corretora. “Fazer operações de alavancagem pode dar a impressão de que o patrimônio é maior. O que não pode é uma pessoa se animar e não controlar o risco”, reforça Claudio Mifano, da Claritas.

Como mostram os estudos de finanças comportamentais, tanto ao consumir quando ao investir, o impulso deve ser controlado para não provocar danos ao bolso. E isso demanda foco e disciplina. “A manutenção de fortunas está relacionada com a pessoa se conhecer direito”, destaca Silvio Paixão, professor de Finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). “Os investidores não podem se deixar influenciar também por opções atraentes que estão sendo oferecidas”, enfatiza.

Na visão do professor, fazer a lição de casa faz parte do processo. “Não é porque mandaram um book com as informações que você vai aceitar. É preciso estudar, procurar os riscos dos investimentos, questionar, contestar”, diz. Segundo José Eduardo Martins, da GPS, ter a assessoria de alguém enviesado é um grande problema. “A melhor maneira de ver isso é se a taxa de administração é alta demais. A segunda coisa muito importante é que a empresa que presta os serviços tenha registro na Anbima [Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais]”, afirma.

A recomendação de Bylik, da Rio Bravo, é para que haja a checagem de informações sobre a gestão dos recursos. “É preciso ver se está sendo feita a alocação de ativos, com portfólio que se adeque ao perfil de risco do investidor. Para gerar rentabilidade, não dá para ficar girando a carteira excessivamente”, aponta. Vale o lembrete de que rentabilidade passada não significa que ela será mantida. “A gente vê pessoas olhando para o retrovisor, e não para o futuro”, diz.

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