Os oito erros mais comuns nas redações do Enem

Ao produzir uma redação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), o estudante precisa ter em mente as cinco competências avaliadas pela banca responsável pela correção. A primeira delas é o domínio da norma padrão da língua escrita.

É essa competência que concentra a maior parte dos erros, segundo aponta um time de professores de cursinhos que, a pedido de VEJA.com, lista as falhas mais comuns dos estudantes na prova de dissertação.

Compreensão do tema proposto pela banca examinadora, capacidade de organizar e relacionar informações, construir argumentos e elaborar uma proposta de intervenção ao problema apresentado são as demais competências avaliadas na redação. O estudante não deve descuidar de nenhuma delas.

Confira a seguir os oito principais erros cometidos por participantes nas provas de dissertação do Enem. Leia também orientações dos especialistas para evitar os deslizes.

Redação do Enem: oito erros comuns dos participantes

Uso de gírias e expressões típicas da língua falada
O uso de gírias e de expressões típicas da comunicação oral deve ser evitado na redação. Embora utilizados no cotidiano, esses registros não fazem parte da norma culta da língua portuguesa, que é a avaliada pelos examinadores do Enem. "O uso dessas expressões acarretam redução na nota do candidato", diz a professora de redação Simone Ferreira Gonçalves da Motta, do curso Etapa.

Exemplos do que deve ser evitado:
1. Registros típicos da oralidade e gírias
Não utilize "né", "daí", "então", "tá ligado", "cara",  "tipo assim"
2. Abreviações usadas em bate-papos da internet
Não utilize "vc", "tb", "pq", "pra". Prefira "você", "também", "porque", "para"

Uso de termos pomposos fora de contexto
O desejo de ostentar domínio da norma culta costuma levar candidatos a cometer outro erro: o de utilizar palavras difíceis cujo significado ele não compreende. A orientação é simples: para não correr o risco de errar, é preferível escolher palavras e construções simples.
"Não adianta usar um termo bonito de modo errado. Isso pode prejudicar a nota do candidato", diz a professora Simone Ferreira Gonçalves da Motta.

Confusão no uso das palavras "mal" e "mau"
Outro erro comum é a utilização trocada das palavras "mau" e "mal".
A primeira é um adjetivo, ou seja, qualifica um substantitivo, como ocorre em "lobo mau".
A segunda pode assumir duas funções. Na primeira, como substantivo, dá nome ao que é nocivo ou prejudicial. É o caso de "O mal é um elemento presente nas fábulas". Na segunda, ele assume o papel de advérbio, alterando um verbo, um adjetivo ou mesmo outro advérbio. É o que ocorre em "Ela pareciamal vestida".
Em caso de dúvida, vale usar uma velha orientação para esclarecer o uso de "mal" ou "mau": substitua na frase as palavras por seus antônimos: "bem" em lugar de "mal" e "bom" em lugar de "mau".

Exemplos:
1. "Ela agiu mal." > Na substituição: "Ela agiu bem."
2. "Ele é um mau aluno." > Na substituição: "Ele é um bom aluno."

Regência verbal e nominal
Regência verbal trata da forma como se ligam verbo e seus complementos. Regência nominal, da ligação entre substantivo, adjetivo ou advérbio e seus complementos.

As regras de regência costumam ser quebradas por serem utilizadas de modo diverso na língua falada. Assim, cotidianamente, é comum encontrarmos a seguinte construção: "Assisto o filme na TV". O correto, segundo a norma culta, seria dizer: "Assisti ao filme na TV", pois o verbo assistir, no sentido usado aqui, exige o uso da preposição "a".

Outro exemplo é a construção "sentar à mesa", que indica que uma pessoa está em uma cadeira à beira da mesa. No dia a dia, a expressão é substituída por "sentar na mesa", que significa que a pessoal está sentada sobre a mesa. A mudança transmite informações totalmente diferentes.

Erros como esse podem prejudicar a compreensão do texto, além, é claro, de roubar pontos precisos do candidato. "Algumas palavras precisam da preposição correta para obter o sentido esperado. O aluno precisa dominar essa técnica", diz Simone Ferreira Gonçalves da Motta.

Como evitar os erros mais comuns:
1. Obedecer: o verbo obedecer exige o uso da preposição "a"
Exemplo: "Os alunos obedecem ao professor" 
2. Ir: o verbo exige o uso da a preposição "a" — e não "no" ou "na"

Exemplo: "Irei ao teatro"

Períodos muito longos
Frases longas devem ser evitadas, pois atrapalham a coesão do texto, explica Filipe Couto, coordenador de redação do curso Pré-Enem, da Abril Educação. O ideal é verificar no rascunho, antes de passar a limpo o texto, os períodos com mais de duas linhas e tentar organizar as ideias em frases mais curtas e objetivas.

O mesmo cuidado deve ser tomado com os parágrafos, para que não haja desequilíbrio entre eles. A orientação do professor Pablo Jamilk, também do Pré-Enem, é que o estudante divida todo texto em três parágrafos seguindo o padrão: três a quatro linhas para a introdução, cinco a sete linhas para o desenvolvimento, e quatro a cinco linhas para a conclusão.
Uso indevido da conjunção "contudo"

A palavra "contudo" é uma conjunção de natureza adversativa que introduz uma oposição a algo que foi dito anteriormente. Assim, não é, como pensam muitos candidatos, o termo apropriado para iniciar, por exemplo, o trecho de conclusão da redação.

"Essa conjunção deve mostrar que há divergência com o texto anterior. A conclusão, por outro lado, pretende apresentar uma consequência dos argumentos apresentados antes", diz Pablo Jamilk, do Pré-Enem. É melhor usar expressões como "logo", "portanto", "desse modo" ou "assim".

Exemplos:
1. "O presidente agiu corretamente, contudo resolveu-se o problema." (ERRADO)
2. "O governo sabe do problema, contudo não age para resolvê-lo." (CORRETO)

Senso comum e generalizações
Na dissertação do Enem, o candidato deve propor soluções a um problema apresentado. Ele deve, portanto, argumentar. Isso exige atenção redobrada a argumentos considerados clichês, aqueles que, usados à exaustão, perdem seu valor. "São exemplos disso apelos à consciência, culpar o capitalismo por todas as mazelas do mundo ou dizer que o governo não liga para o povo" diz o professor Pablo Jamilk, do Pré-Enem.

O mesmo vale para generalizações. É o caso de afirmações como "a população brasileira não acredita mais no voto como instrumento democrático", entre outras. "A afirmação é imprecisa, já que o aluno não pode garantir que toda a população do país deixou de acreditar no voto", diz o professor Filipe Couto.

Seja cuidadoso ao usar palavras como "único", "sempre", "todos", "jamais". Elas ajudam a construir generalizações indevidas.

Cópia de trechos da proposta de redação
A proposta de redação de Enem vem sempre acompanhada de uma coletânea de textos de apoio cujo objetivo é subsidiar a discussão a ser desenvolvida pelo candidato. Isso eventualmente inclui, além de textos, mapas e charges.

Um tropeço frequente cometido por participantes da avaliação federal é reproduzir trechos textuais dessas fontes. A cópia, lembra o professor Filipe Couto, acarreta desconto na nota e na contagem de linhas válidas da redação. O mesmo vale para quem parafraseia o trecho, ou seja, reproduz o texto de apoio usando outras palavras.

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