Domínio Talibã ameaça direito das mulheres afegãs

Williane Marques de Sousa
Publicado em: ter, 17/08/2021 - 15:31

Depois de quase duas décadas de serem expulsos de Cabul, capital do Afeganistão, os combatentes do Talibã retornaram ao local, causando pânico nos moradores. A volta do grupo ocorreu depois da saída dos militares dos Estados Unidos, que em 2001 invadiram o Afeganistão e lá permaneceram, com o objetivo de impedir o Talibã continuasse exercendo seu poder extremista naquele lugar.

Com o retorno do Talibã no território afegão, o medo foi instaurado: num ato de desespero, centenas de pessoas tentaram fugir e muitas delas arriscaram sua própria vida ao ficaram penduradas em um avião militar que estava decolando para sair do país. O vídeo dessa cena foi divulgado nas redes sociais e causou muita comoção. Neste cenário, existe um grupo de pessoas que corre o risco de ser o mais oprimido e ter seus direitos ignorados: as mulheres.

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Desde 1996, ano em que o Talibã capturou e dominou Cabul pela primeira vez, até 2001, as mulheres viveram sobre a dura regência do grupo extremista. Elas não tinham permissão para estudar ou trabalhar e sempre deveriam andar e viajar acompanhadas de um parente homem. Até suas roupas eram controladas: todas deviam estar cobertas da cabeça aos pés. As mulheres que desrespeitavam essas regras às vezes sofriam humilhações e espancamentos públicos pela polícia religiosa do grupo sob a interpretação estrita da lei islâmica.

Porém, após a invasão e o domínio norte-americano no Afeganistão, as coisas melhoraram. De lá pra cá, as mulheres conquistaram muitos direitos. As meninas puderam ir à escola e estudar, as mulheres se tornaram mais autônomas, conquistaram lugares no Parlamento, no Governo e também abriram seu próprio negócio. Agora, com a volta do Talibã no país, as mulheres temem pelas suas vidas, sentem que seus direitos podem ser duramente reprimidos novamente.

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Os primeiros indícios de opressão ao sexo feminino surgiram antes mesmo da tomada do território. Quando o grupo ainda avançava sobre as cidades afegãs, cerca de 250 mil moradores fugiram para Cabul. De acordo com a ONU, 80% dessas pessoas eram mulheres ou crianças. O Talibã já tinha começado a aterrorizar esse grupo de pessoas com ameaças de casamentos forçados, sequestro de mulheres e violência física (1).

No início de julho, enquanto os homens do Talibã tomavam território em todo o Afeganistão, combatentes do grupo entraram nos escritórios do Banco Azizi, na cidade de Kandahar, e ordenaram que nove mulheres que trabalhavam lá deixassem seus cargos. Os homens estavam armados e escoltaram essas mulheres até suas casas. Disseram que elas não deveriam voltar ao trabalho e afirmaram que parentes homens poderiam ocupar seus cargos (2).

Até mesmo no período de negociação as mulheres já estavam sendo atacadas. Mulheres afegãs que trabalham em áreas como jornalismo, saúde e aplicação da lei foram mortas em uma onda de ataques desde que as negociações de paz começaram no ano passado entre o Talibã e o governo afegão apoiado pelos EUA. Embora o acordo tenha sido assinado, a paz não prevaleceu.

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O líder do grupo extremista diz que não pretende retomar a forma de governo exercida nos anos de 1996 a 2001. O grupo alega que agora será diferente, que está comprometido com o processo de paz, com um governo inclusivo e disposto a manter alguns direitos para as mulheres, como a permissão para elas continuarem sua educação do ensino fundamental ao superior (3).

Porém, as mulheres afegãs permanecem com medo. Temem que estes sejam apenas os primeiros sinais da volta à opressão de seus direitos, que foram duramente conquistados ao longo desses últimos 20 anos. Direitos que para nós são tão simples, como escolher nossas roupas e onde trabalhar, para elas são grandes conquistas. Conquistas estas que estão sendo ameaçadas por um grupo extremista, que usa a religião para oprimir as pessoas.

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Não é uma questão apenas de política ou de religião, é uma questão de direito internacional, direitos humanos e de respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana. Espera-se que as autoridades internacionais competentes, juntamente com a ONU, tomem providências para que não ocorra novamente o tempo sombrio de antes e que a paz realmente venha prevalecer nesses lugares e as pessoas tenham seus direitos fundamentais respeitados.

Williane Marques de Sousa
Estudante de Direito – Estagiária Unieducar

REFERÊNCIAS:

1. https://www.agazeta.com.br/mundo/dias-sombrios-controle-do-taliba-no-afe...
2. https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/2021/08/15/ascensao-do-taliba...
3. https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/2021/08/16/quem-e-o-taliba-e-...

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