EaD tem quase 300 anos. Você sabia?

Juracy Braga Soares Junior
Publicado em: ter, 24/11/2020 - 09:59

A pandemia do coronavirus antecipou em pelo menos 10 anos uma série de mudanças que estavam ocorrendo gradativamente na educação, no Brasil e no mundo. E a Educação a distância – que já vinha em processo de forte disseminação – mas ainda enfrentava resistências, se transformou na única modalidade possível durante a fase de isolamento social.

O que poucos sabem é que a EaD já tem quase 300 anos. Há ainda os que confundem a educação a distância com a educação digital, mais conhecida como e-learning. Por isso mesmo vamos explicar aqui como surgiu e evoluiu esse conjunto de ferramentas que permitem – desde o século 18 – a formação de pessoas a distância.

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É isso mesmo, você não ouviu errado nem precisa voltar para ter certeza. A EaD tem o seu primeiro registro histórico ainda no século 18, há quase 300 anos, na cidade de Boston, no estado americano de Massachusetts.

É que no dia 20 de março de 1728 o professor Calleb Phillips decidiu ensinar taquigrafia na modalidade a distância. Ele teve a ideia de publicar um anúncio no jornal Boston Gazette oferecendo aulas a distância para quem se matriculasse em seu curso.

Aqui é necessário abrirmos parêntesis para lembrar que só quase 160 anos depois, por volta de 1886 é que surge o automóvel moderno - com o Benz Patent-Motorwagen do inventor alemão Karl Benz. E só em 1913 é que a linha de montagem para fabricação dos primeiros Ford-T começa a operar nos Estados Unidos.

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Isso significa que, quando o professor de taquigrafia criou a Educação a Distância, o automóvel ainda não existia. O trem também não. O trem só começou a operar nos Estados Unidos em 1835, com a conclusão de uma ferrovia ligando as cidades de Boston, em Massachusetts e Providence, em Rhode Island.

Vamos fechar esses parêntesis deixando claro o ambiente no qual a EaD surgiu. Para que você tente imaginar como seria estudar por meio do recebimento de lições que eram enviadas pelo correio, numa época em que o correio operava com cavalos e carroças, já que não havia ainda carros ou trens.

Então devia funcionar mais ou menos assim: a pessoa recebia o jornal com algumas semanas de atraso, lia o anúncio, remetia seus dados e o dinheiro da matrícula em envelope pelo correio e algumas semanas ou meses depois, passava a receber suas lições, que certamente vinham a cavalo, já que esse era o único meio de transporte naquela época.

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E você aí, reclamando das aulas online, não é? Em frente! Depois dessa inovação por parte do professor de taquigrafia Caleb Phillips, vamos agora entender como a EaD se desenvolveu por todo o mundo até chegar na modalidade de elearning, certo?

Só para não deixar nenhum fio solto, se você não sabe o que é a tal da taquigrafia que o professor de Boston ensinava, anota aí para dar um Google no termo, certo?

Então, de 1728 até o registro seguinte que a história tem sobre a EaD, vamos até a cidade sueca de Lund, no ano de 1833. A Universidade de Lund passou a ofertar – também por correspondência – um curso de composição. Em 1840, na Inglaterra, o professor Isaac Pitman também passou a lecionar taquigrafia a distância, incentivando seus alunos a produzirem cartões postais com textos abreviados, que ele ensinava em seu curso.

A retrospectiva da evolução histórica da EaD tem – basicamente – a seguinte dinâmica:

Até os anos 1910 os cursos eram desenvolvidos por correspondência, exclusivamente com base em lições impressas.

A partir da década de 1910 observamos o início do uso de slides e audiovisuais, como conteúdo instrucional.

Entre as décadas de 1920 e 1940, o mundo enfrentou as duas grandes guerras mundiais. Mesmo assim a EaD manteve-se ativa, usando principalmente o rádio como ferramenta para transmissão de conteúdo.

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A partir da década de 1950 surge a TV, que viabiliza as primeiras experiências com os telecursos, que formaram (e ainda formam) milhões de pessoas em todo o mundo. Naquela época a tecnologia de transmissão via satélite ainda não era possível. Os filmes tinham que ser levados fisicamente até as cidades que reproduziam o conteúdo para a população localmente assistida. No Brasil essa foi a principal modalidade até o início da década de 1980. As novelas, por exemplo, eram transmitidas inicialmente no sul e sudeste, para somente depois os rolos serem levados às repetidoras nas demais regiões do país.

A década de 1990 dá início à realização de cursos por computador (via CD-ROM) e depois, já no final da década, pela internet.

Você talvez não saiba, mas muitos famosos estudaram a distância. A seguir vou listar alguns que você conhece e até admira:

Nelson Mandela. Mandela passou 27 anos preso na África do Sul. Enquanto estava na cadeia, o ativista dos direitos humanos fez o curso de Direito a distância, pela Universidade de Londres. Só não recebeu o diploma porque as provas tinham que ser realizadas presencialmente e ele não teve autorização para deixar a cadeia para isso.
Aqui uma curiosidade: Se você gosta de cinema e quer conhecer mais sobre a história desse ícone dos direitos humanos, recomendo o filme Invictus, estrelado pelo Morgan Freeman no papel de Mandela e pelo Matt Damon. Esse filme tem a direção de ninguém menos que Clinton Eastwood.

Shaquille O’Neal. Um dos ícones do basquete americano, após encerrar sua carreira, fez um MBA a distância na Universidade de Phoenix, no Arizona.

Arnold Schwarzenegger. O eterno exterminador do futuro começou sua carreira como fisiculturista. Foi um dos atores mais bem pagos de Hollywood e chegou a ser governador da Califórnia. Ele cursou Marketing Internacional e Administração por correspondência, ainda em 1979.

Steven Spielberg. O diretor de Indiana Jones, Jurassic Park, Minority Report, Prenda-me se for capaz, dentre tantos outros sucessos, iniciou em 1965 uma graduação na California State University Long Beach, mas abandonou a faculdade. Completou o bacharelado em artes apenas em 2002, fazendo as matérias que faltavam a distância.

A EaD no Brasil. O primeiro registro histórico da Educação a Distância no Brasil data de 1904, quando um anúncio no Jornal do Brasil ofertava curso de datilografia por correspondência. A partir daí a prática se disseminou em jornais por todo o século 20, com o encarte periódico de aulas em suas edições.

Outro marco da utilização da EaD no Brasil ocorre com a utilização da radiodifusão com fins educativos em 1936, com a instalação da Rádio-Escola Municipal. Já em 1939 foi criado o Instituto Monitor, que oferecia cursos por correspondência considerados os mais antigos e conhecidos cursos a distância no país. O instituto Monitor completou em 2019 80 anos e agora oferece cursos pela internet.

EaD é gênero de várias espécies. Para nos dirigirmos à conclusão dessa nossa conversa, precisamos agora deixar clara a seguinte situação... A EaD é o gênero que abriga diversas espécies, como a Educação Digital, o Ensino Remoto, dentre outras modalidades. Mas o que é mais importante é que você saiba que é uma possibilidade que já se desenvolve há quase 300 anos, quando todas as atuais ferramentas de transmissão de mídias eram coisas de ficção científica.

Agora vamos tentar responder a duas perguntas sobre o futuro, certo?

1ª.: O online vai substituir o presencial? Creio que não. A pandemia forçou a “degustação”, por parte dos estudantes. Da parte de instituições e professores, iniciou um movimento na direção do avanço tecnológico, até porque muitas das ferramentas que estão em uso já existiam há bastante tempo. O que certamente vai acontecer é a combinação dos dois modelos de modo a atender os diferentes tipos de usuários, até mesmo porque há pessoas que não têm facilidade de acesso ao conteúdo presencial.

2ª.: O que se projeta para o futuro da EaD? Certamente a partir da massiva disseminação da tecnologia 5G as possibilidades de aulas online vão ganhar uma nova interface de telepresença com a viabilização de avatares holográficos que certamente vão “povoar” as novas salas de aula virtuais. Além, disso, as aulas online ainda não fazem uso sequer de 10% de tudo o que a tecnologia atualmente permite. O que temos – na realidade – é a digitalização de um modelo que foi concebido há mais de cem anos.

Bom, essas são as informações que eu queria compartilhar com vocês por enquanto. Eu sou o professor Juracy Soares e volto com novas sacadas para nosso canal Unieducar.

Prof. Dr. Juracy Soares

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