Enriqueça Dormindo capítulo 02 - Aprendizado mão na massa

Juracy Braga Soares Junior
Publicado em: qui, 10/09/2020 - 20:38

“Cada sonho que você deixa para trás é um pedaço do seu futuro que deixa de existir” - Steve Jobs

Com o falecimento de meu pai, nossa família estava resumida a mim, então com 7 anos; meu irmão com 6; e minha mãe com 32, inexperiente em tudo que estivesse relacionado ao trato com dinheiro, negócios e empreendedorismo.

Minha mãe continuava, dia após dia, desdobrando-se para sustentar nossa família. Como sabemos, a necessidade é a mãe da invenção. E minha mãe passou a costurar vestidos de baile e festas, como mencionei, além de ter se aperfeiçoado na arte de cozinhar bolos e sobremesas.

Com a renda dessa produção caseira, conseguia pagar colégio, comprar fardamentos e material escolar, que quase sempre era formado por livros reaproveitados de alunos que haviam estudado no ano anterior.

Aqui faço uma pausa para relembrar que essa prática adotada por minha mãe, de comprar e trocar livros didáticos e paradidáticos em feiras de livros e sebos, foi também assimilada por minha família (eu, minha esposa e meus filhos). Minha esposa Andréa participou, ano após ano, de feiras de trocas de livros usados, comprando livros reaproveitados de alunos de séries seguintes, ao mesmo tempo em que vendia os livros usados no ano anterior pelos nossos filhos (Felipe, Letícia e Juliana).

Andréa e eu sempre nos esmeramos para dar Educação de qualidade aos nossos filhos. Mas isso não significa que não poderia ser com ferramentas (livros) já usadas anteriormente por outros alunos. Quantas noites a Andréa passou limpando e encadernando livros usados para que estivessem mais bem aproveitados no início do ano letivo?
Isso ajudou a incutir em nossos filhos a real noção de valor. Afinal, o que vale mesmo é a essência e não a forma.

Voltemos à nossa história...
Nossa vida seguia relativamente tranquila. Minha mãe assumia a função de pai e de mãe. Foi – e é – para mim uma heroína, pois manteve-se firme no objetivo de proporcionar, dentro de suas limitações, o acesso à nossa educação, no melhor padrão de qualidade que seus rendimentos podiam bancar.

No colégio, tanto eu quanto meu irmão vínhamos mantendo um excelente comportamento. Nos dávamos muito bem com todos os nossos colegas e professores.

Eu mantinha um apetite voraz por leitura. Como tinha pouco acesso a jornais e revistas, me deliciava quando minha mãe podia comprar uma revistinha em quadrinhos. Por conta da admiração que nutria pelos textos dos balões das revistinhas, incorporei como caligrafia a “letra de forma”. Era frequentemente chamado a atenção para mudar para a letra do tipo cursiva. Mas eu sempre recusei. Acho que esse foi o único problema que tive na escola quando ainda residíamos em Recife.

É claro que, no colégio, todos os anos havia a comemoração do “Dia dos Pais”. Essa era invariavelmente uma data que me trazia aquele vazio.  Lembro de me sentir com um misto sensações que variavam entre a raiva e frustração. Tenho viva em minha memória uma pergunta que sempre me fazia, em silêncio, nesses momentos: “por que todos têm pai e só eu não?”

Outra lembrança que me vem à mente dessa época está relacionada à sensação de medo de perder o restante da família. Me recordo que numa determinada tarde minha mãe saiu com meu irmão para fazer compras. Ao me deixar no apartamento, me disse que voltaria dentro de poucos minutos. Ela acabou encontrando uma amiga e a conversa se estendeu por alguns pares de horas. Talvez nem tenha sido tanto. Mas a minha sensação de ver a noite cair, estando sozinho no apartamento, me fez pensar em: “o que seria de mim se algo tivesse acontecido com minha mãe e meu irmão?”. Chorei muito até que ouvi o barulho da chave abrindo a porta de entrada.

Creio que esse episódio me alertou para o fato de que talvez o ideal a fazer seria mudarmo-nos para Fortaleza, onde praticamente todos os demais parentes residiam. Em Recife tínhamos apenas a família de um tio (irmão de meu pai). Mas como residiam em um bairro bem distante, nos víamos muito pouco. Já as tias, tios e primos que residiam em Fortaleza eram até mais próximos, em função das férias que eventualmente passávamos na casa de minha avó materna. O falecimento de meu pai acabou por me forçar – como já disse - a desenvolver um certo amadurecimento.

Por incrível que possa parecer, percebi com muita nitidez o grau de insegurança que minha mãe tinha em certos aspectos que a vida exigia, especialmente em questões relacionadas a todos os assuntos que eram assumidos pelo meu pai. E como ele agora não estava mais conosco, de certa forma, sentia-me como se fosse eu o “homem da casa”.

O fato é que eu, com 10 anos de idade, sugeri a minha mãe que deveríamos nos mudar para Fortaleza, e insisti. Isso foi no segundo semestre do ano de 1977. Lembro bem que minha mãe argumentou que seria uma mudança ruim, por conta da necessidade de adaptação, para mim e meu irmão, pelo fato de já estarmos ambientados em nosso colégio. E eu prontamente argumentei que, como crianças que éramos, nos adaptaríamos facilmente em qualquer outro lugar, dentro de poucos dias ou semanas.

Minha mãe, ainda abismada com meu nível de “maturidade”, prontamente absorveu a ideia e passou a adotar providências para que viéssemos a residir em Fortaleza já no ano seguinte. Uma de suas primeiras providências foi a de pesquisar em qual colégio passaríamos a estudar no ano letivo seguinte.

Dito e feito. No início do ano de 1978 passávamos a residir em Fortaleza. Como nossa condição financeira era precária, optamos por aceitar o convite de nossa avó materna e ocupamos os cômodos vagos que havia em sua casa.

Uma coisa estava já se cristalizando em minha mente: a mudança é algo permanente em nossas vidas. E eu estava começando a aprender que temos que ser capazes de administrar bem toda essa dinâmica, extraindo de cada uma dessas “revoluções” o melhor ensinamento possível.

Chegando em outra cidade, tivemos que aprender rapidamente a nos relacionar com novos colegas e com novos professores em um novo colégio. Uma das coisas que mais me impactaram foi o fato de passar a depender de adultos para ir à praia. Em Recife íamos diariamente, a pé. Em Fortaleza era diferente.

Na capital cearense passamos a residir a cerca de dez quilômetros da praia. Dependíamos agora sempre de tios ou tias que nos levassem, quando possível, nos finais de semana.

Foi outro aprendizado importante, passei a perceber que:

PEQUENAS COISAS SÃO COSTUMEIRAMENTE SUBVALORIZADAS... ATÉ QUE AS PERDEMOS.

E a perda de uma certa ‘autonomia’ em relação à mobilidade foi, sem dúvida, algo que me impactou.

Mas em Fortaleza diversas outras mudanças foram para melhor. Como ocupamos o antigo quarto de um tio que havia casado, todas as revistinhas em quadrinhos dele (eram centenas), ficaram sob a minha curadoria!

Nesse sentido, me sentia exatamente como o Tio Patinhas dentro de sua caixa forte, nadando em seu ‘mar’ de moedinhas de ouro!

Outra providência que precisei tomar foi a de, além de firmar laços de relacionamento com novos colegas da rua e do colégio, procurar maneiras de expandir contatos além desses grupos. Sem saber, eu estava expandindo minha rede de relacionamentos, praticando em um certo nível a experiência de construção de networking.

Como uma de minhas tias residia na França, recebíamos muitas cartas dela. E eu passei a colecionar aqueles selos que vinham colados nos envelopes. Com o tempo, passei também a estudar sobre filatelia. Aquela minha pequena coleção foi se expandindo e fui convidado a fazer parte de um clube local de colecionadores de selos. Os membros do clube se reuniam a cada quinze dias e nessas reuniões pude – além de aprofundar meus conhecimentos na área – exercitar mais ainda a construção de uma nova rede de relacionamentos.

Em 1979, eu estava com 12 anos e era membro desse clube quando soube que haveria uma exposição e um concurso anual de ‘cartazes filatélicos’. Prontamente me inscrevi e, no julgamento, arranquei o 2º lugar na competição.

Para mim foi uma conquista muito importante e me revelou pela primeira vez que eu era capaz de PLANEJAR, EMPREENDER E VENCER. Recebi meu primeiro certificado que eu tenho comigo até hoje.

Olhando para trás, percebo que uma das ‘brincadeiras’ que mais gostava era a de ‘escritório’. Minha tia materna mais nova bolava frequentemente uma brincadeira do tipo ‘Empresa de faz de conta’. Em um dos birôs que meu tio havia deixado na casa, simulávamos rotinas de negócios como contratos, compra e venda os mais diversos. Aproveitávamos as almofadas de carimbo antigas, usávamos notas de dinheiro do ‘Banco Imobiliário’ e passávamos horas ‘tratando de negócios’.

Essa experiência me despertou muito forte a ideia de começar a atuar profissionalmente em uma ‘empresa’ para poder, aí sim, começar a ganhar o meu próprio dinheiro e poder me tornar independente o mais rápido possível.

Minha família materna tinha (ainda tem) uma fazenda no sul do Estado do Ceará. E passei muitas das minhas férias naquele local. Na estação da safra de frutas, centenas de mangas caíam após as chuvas. Tive a ideia de juntar aquelas mangas que caíam, colocávamos em dois caçuás, uma espécie de cesto de cipó, e carregávamos num jumento para vender na vizinhança. Íamos no lombo de um cavalo tangendo o jumento carregado de frutas e só voltávamos para casa quando não restava mais uma única manga nos cestos.

Naquelas manhãs, após selar e arrear meu cavalo e carregar o jumento com frutas, eu passava praticamente todo o dia participando de diversas atividades.
Ali estavam presentes os exercícios que me davam lições práticas de empreendedorismo, como:

  • Identificação de uma necessidade do cliente;
  • Identificação da fonte supridora de mercadorias;
  • Coleta, armazenamento e distribuição;
  • Entrega em domicílio;
  • Pagamento facilitado;
  • Apuração de vendas, lucro e reinvestimento.

Todas as atividades empreendedoras que eu realizava em casa e naquela fazenda iam moldando minha personalidade.

Essas atividades iam me revelando também um conjunto de possibilidades para fazer dinheiro e conquistar minha independência financeira. Consequentemente iam me indicando o quão autônomo eu poderia (e deveria) ser, a partir do desenvolvimento de atividades profissionais remuneradas, fossem essas quais fossem.

Outra atividade que me revelou um certo nível de empreendedorismo foi a de criação de peixes ornamentais. Quando avistei pela primeira vez um aquário, fiquei louco para poder criar peixes. Mas, como os recursos financeiros não estavam – vamos dizer – ‘disponíveis’, tive que encontrar uma maneira de começar a minha própria criação sem dinheiro.

Perto de casa havia uma região de rio. Fiquei sabendo que por lá era possível capturar alguns peixes da espécie “Guppy”, bastante resistente e pouquíssimo exigente quanto às instalações. Imediatamente construí uma rede com um pequeno pedaço de ‘filó’ que achei na caixa de costura de minha avó e um arame que encontrei no quintal. Chegando lá capturamos alguns espécimes e, em casa, adaptamos uma jardineira, convertendo-a num tanque. Era o começo de nossa criação.

Mais um aprendizado valioso. Aquelas interações de construção de tanques, reprodução de peixes, venda, compra e expansão, me ensinavam muito mais do que podia perceber na época.

Aos treze anos, em 1980, concluí os estudos do então ‘1º grau’, já em Fortaleza. Acumulava então dois certificados agora, juntamente com o de participação no concurso de filatelia.

Ainda aos quatorze anos participei de minha primeira atividade de treinamento extracurricular que tenho lembrança. Foi um Seminário de Língua e Literatura Brasileira, promovido pelo Conselho Estadual de Educação. Durou três dias e este seria o primeiro de centenas de eventos de qualificação profissional em que eu iria participar ao longo de minha vida.

Em 1981, aos quatorze anos, eu acumulava então três certificados. Como eu pensava muito em trabalhar, comecei a organizá-los cuidadosamente em uma pasta, visando montar meu ‘currículo’ para me candidatar a um trabalho, tão logo tivesse cumprido o pré-requisito imposto por minha mãe, que era a aprovação no ‘vestibular’.

Dessa fase de minha vida, que durou dos sete aos 14 anos, creio que o que mais me marcou foi essa nova fase em que pude perceber que eu era capaz de fazer praticamente tudo aquilo que eu quisesse.

Creio que foi o início da fase de transição na qual as brincadeiras iam se materializando em visões de futuras oportunidades de negócios. Olhando para trás, percebo que os conceitos que iam se fortalecendo para mim eram os de empreendedorismo, qualificação profissional e networking, mesmo que eu soubesse nada sobre isso.

MENSAGEM DO CAPÍTULO: A ‘Lei da Semeadura’ sempre vai funcionar. É impossível fraudar essa lei. Ou seja, o que você colhe hoje é resultado do que você plantou no passado. Então, se queremos colher frutos saborosos, teremos que escolher boas sementes, um bom terreno que contenha um solo fértil. Em seguida, plantar da forma correta, no tempo certo, para que as chuvas possam irrigar aquela planta e essa planta possa brotar.

E aí vem uma nova fase que exigirá de nós o cuidando e limpando o terreno ao redor, para que o mato não a sufoque, erradicando as pragas que poderão atacar a plantação. Essas plantas irão se desenvolver e certamente nos recompensarão com frutos deliciosos, que saciarão nossa sede e fome.

Um ponto que merece destaque aqui é: não espere acontecer. Não se dê desculpas pelo atual estágio profissional ou patamar de remuneração no qual se encontra hoje.

Uma frase que define bem esse ponto é atribuída a vários autores. O fato é que essa frase não é minha e por isso vou citar a mesma entre aspas, mas que é uma excelente conclusão para este capítulo:

“Faça o que puder, com os recursos que dispuser, onde você estiver”

Há quem encontre todo o tipo de desculpas para justificar sua inércia ou apatia. E aí sempre é mais fácil encontrar culpados, que podem ser o Governo, a Crise, o Mercado em baixa etc.

O certo é que o ‘momento certo’ para empreender e colocar o seu “Plano E” em prática é hoje! Jamais haverá um dia melhor que hoje.

É óbvio que essa determinAÇÃO somente será a característica de poucos. A maioria vai continuar arrumando desculpas para esconder sua falta de coragem e permanecer deliciosamente acomodado em sua zona de conforto.

A tal zona de conforto, contudo, é uma armadilha prestes a te aprisionar na irrelevância profissional, que traz a reboque uma série de contratempos financeiros.

Está no âmbito de sua decisão – portanto – agir no sentido de avançar e gerar riqueza a partir de sua atividade empreendedora ou condenar a si e à sua família, à pobreza.

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Prof. Dr. Juracy Soares
Esta é a 2ª versão do meu livro Enriqueça Dormindo. Decidi quebrar uma tarefa grande (escrever ou revisar um livro) em várias tarefas pequenas, publicando um artigo (capítulo) por semana. Sou professor fundador da Unieducar, fundador e Editor Chefe da Revista Científica Semana Acadêmica. Sou graduado em Direito e Contábeis; Especialista em Auditoria, Mestre em Controladoria e Doutor em Direito; Possuo Certificação em Docência do Ensino Superior; Sou pesquisador em EaD/E-Learning. Autor desse livro que compartilho em forma de artigos, gratuitamente na Internet.

Nota do editor: os textos, fotos, vídeos, tabelas e outros materiais iconográficos publicados no espaço “opinião” não refletem necessariamente nosso pensamento, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es) as informações, juízos de valor e conceitos divulgados.