Tesla lucra vendendo créditos de carbono para concorrentes, em vez de carros para clientes

Juracy Braga Soares Junior
Publicado em: ter, 02/02/2021 - 07:41

As Demonstrações Contábeis detalhadas passaram a revelar o que o Balanço Patrimonial da Tesla vinha encobrindo: Agora sabe-se que a sua maior fonte de lucros não vem da venda de carros elétricos, e sim da comercialização de Créditos de Carbono. E dentre as companhias que compram créditos de carbono da Tesla estão duas de suas maiores concorrentes, dentre outras corporações.

As estimativas da Bloomberg(1), reveladas em artigo de junho de 2019, apontou que a “fonte secreta de dinheiro” da Tesla é a venda de créditos regulatórios de emissões zero. E dentre os adquirentes desses créditos estão nada mais, nada menos que duas de suas maiores concorrentes, que são obrigadas a adquirir compensações ambientais por força da legislação vigente nos estados em que mantém plantas fabris.

A reportagem da agência de notícias acabou por desvendar que – por anos – os resultados positivos da Tesla vêm sendo puxados pela venda desse tipo de ativo ambiental. A ‘fonte’ de recursos que ajudaram a companhia de carros elétricos a publicar Balanços positivos não tinha a divulgação adequada. Pelo contrário, era – o máximo possível – encoberta.

Em julho de 2020 a Forbes(2) em referência à publicação de demonstativos contábeis Q2 da Tesla, revelou que as crescentes vendas de crédito de carbono impulsionam seus resultados positivos no período. A receita líquida de US$ 104Mi ficou muito além das estimativas, que projetavam perda. O aumento nas vendas de crédito regulatório foi o principal motivo.

Curso Créditos de Carbono e Projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo MDL

A venda de créditos de carbono em 2020 aumentou para cerca de US$ 428Mi no segundo trimestre, ante cerca de US$ 354Mi no primeiro trimestre e apenas US$ 111Mi no segundo trimestre de 2019. Como esses créditos são quase puro lucro (a Tesla provavelmente não incorre em despesas diretas para ganhá-los), a empresa muito provavelmente, reportaria perdas conforme os US GAAP, caso não reconhesse essas receitas. Além disso, a estimativa foi de que a margem bruta automotiva da Tesla teria sido inferior em mais de 600 pontos-base (6%) no segundo trimestre de 2020, se não fossem as vendas de créditos de carbono.

Em 2021 o Credit Suisse, por meio de seu analista Dan Levy reportou que não há como prever o fim da venda de créditos de emissões para outras montadoras. Isso porque essas empresas não podem (ou não desejam) cumprir com a redução de seus padrões de emissões. Como há uma ‘saída’ legalmente viável, preferem simplesmente comprar créditos regulatórios da Tesla.

A notícia, contudo, parece ser boa exclusivamente para a própria Tesla, uma vez que não tem o condão de reduzir o número de carros movidos a combustíveis fósseis, até que os compradores de crédito se cansem de comprar créditos e optem por migrar para modelos de produção voltados para veículos emissão-zero.

Para a Tesla, sua receita originada da venda de créditos regulatórios deve crescer para US$ 2Bi em 2021, em comparação com US$ 1,4Bi em 2020 (conforme prejeta o Credit Suisse). As ações da Tesla têm subido exponencialmente nos últimos tempos, e a empresa foi bem-vinda no S&P 500 no final de 2020.

Embora não saibamos ao certo como as coisas podem parecer nos Estados Unidos sob o novo governo Biden, quase tudo aponta para apoio às inciativas verdes, sendo e os carros elétricos são um desses símbolos.

No outro lado da lucratividade que a Tesla vem gerando para seus acionistas, é de espantar a inércia que toma conta das demais companhias que, em suas zonas de conforto, parecem negar o óbvio: que a produção de carros deveria ter sido orientada para o desenvolvimento de veículos autônomos elétricos. Você que está lendo esse artigo no Brasil deve estar traçando um paralelo com a saída da Ford do país. É uma situação que exemplifica bem o quão atrasadas essas companhias se deixaram ficar.

Fica a dica para reflexão sobre o que você e o seu negócio estão fazendo para manterem-se relevantes em sua área de atuação, em seu mercado. Afinal de contas, você está mais para Tesla ou para Ford, GM e FCA?

Se você gostou desse post e deseja comentar ou até sugerir outros temas relacionados, entre em contato comigo pelo e-mail abaixo. Será um prazer atender. Quero ouvir sua opinião.

Prof. Juracy Soares - e-mail: juracy.soares@unieducar.org.br
Fundador da Unieducar Universidade Corporativa. Doutor em Direito; Mestre em Controladoria; Especialista em Auditoria; Graduado em Direito e Contábeis. Certificado em Docência do Ensino Superior; Pesquisador em e-Learning. Editor-Chefe da Revista Científica Semana Acadêmica. Professor universitário e palestrante internacional. Escritor, autor do livro Enriqueça Dormindo.

REFERÊNCIAS:
1.: GM and Fiat Chrysler Unmasked as Tesla's Secret Source of Cash. Disponível em:  https://www.bloomberg.com/news/articles/2019-06-03/tesla-s-secret-source...
2.: Behind Tesla’s Profits. Disponível em:   
https://www.forbes.com/sites/greatspeculations/2020/07/23/behind-teslas-...

Nota do editor: os textos, fotos, vídeos, tabelas e outros materiais iconográficos publicados no espaço “opinião” não refletem necessariamente nosso pensamento, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es) as informações, juízos de valor e conceitos divulgados.