A visão preconceituosa e elitista do ministro Paulo Guedes contra os mais pobres

Williane Marques de Sousa
Publicado em: qua, 05/05/2021 - 14:46

Nosso país é marcado fortemente pela desigualdade social, que se exemplifica em diversos fatores como a escolarização, o acesso a serviços básicos, como saúde e segurança, e à cultura. O site “Exame” (1) informou que a desigualdade brasileira continua a ocupar os primeiros lugares no ranking mundial, mais precisamente ocupando a nona posição, concentrando muitos recursos nas mãos de poucos (da elite) e deixando a maioria da população brasileira com escassez de recursos. Além de viver com a dificuldade proveniente dessa falta de recursos, a população mais pobre ainda é obrigada a conviver com a opressão e discriminação por parte de algumas pessoas que constituem a elite brasileira.

O atual Ministro da Economia do Brasil, Paulo Guedes, é uma dessas pessoas que constantemente demonstra em suas falas e ações certo preconceito e até desprezo às classes sociais mais baixas. Pela sua posição, deveria ser alguém que lutasse pela igualdade social e por maiores e melhores condições de vida para toda a população, mas parece que está mais interessado em saciar os anseios da elite. Neste artigo, veremos algumas falas do Ministro Paulo Guedes que demonstram essa visão preconceituosa e elitista contra os mais pobres.

“Guedes diz que dólar alto é bom: ‘empregada doméstica estava indo para Disney, uma festa danada’”.
O site O GLOBO (2) divulgou o seguinte trecho da fala do Ministro da economia:
“O câmbio não está nervoso, (o câmbio) mudou. Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para Disneylândia, uma festa danada. Pera aí. Vai passear ali em Foz do Iguaçu, vai passear ali no Nordeste, está cheio de praia bonita. Vai para Cachoeiro de Itapemirim, vai conhecer onde o Roberto Carlos nasceu, vai passear no Brasil, vai conhecer o Brasil. Está cheio de coisa bonita para ver” — disse o ministro, durante um evento em Brasília.
Essa “pérola” foi dita pelo ministro em fevereiro de 2020. Ele afirmou que o dólar mais alto seria bom para todo mundo, porque aumenta as exportações e substitui importações, inclusive no turismo. Além disso, afirmou que, com o dólar mais baixo, “todo mundo” estava indo par a Disney, inclusive uma “empregada doméstica” e que ela e os demais brasileiros deveriam viajar pelo Brasil e não para o exterior. Com isso, podemos perceber que, na cabeça do ministro da economia, seria inviável e até errado uma “empregada doméstica” fazer uma viagem internacional e ir para a Disney, um local que, aparentemente, somente os mais ricos e com mais status poderiam ir.

Curso Diversidade Humana, Discriminação e Igualdade de Oportunidades
 

“Paulo Guedes diz que Fies é 'bolsa para todo mundo' e fala que ‘filho de porteiro tirou zero na prova e conseguiu financiamento’”
Em abril deste ano, 2021, o ministro da economia disse que o FIES, programa federal que proporciona o financiamento das mensalidades do ensino superior para estudantes de baixa renda, é um desastre e que é uma bolsa para “todo mundo”, conforme divulgado pelo site G1  (3). Segundo ele, o porteiro do seu prédio informou que seu filho tinha tirado zero no vestibular e ainda assim tinha conseguido a bolsa. Apesar de Paulo Guedes ter argumentado que se referia a possíveis desvios do FIES, sua fala soou como uma afronta, principalmente aos milhares de estudantes de baixa renda que conquistaram seu diploma superior através deste programa de financiamento.
O mais curioso disso é que, segundo o site El País (4) o próprio ministro se beneficiou com a política pública de acesso ao ensino superior: de 1974 a 1978, ele estudou na prestigiosa Universidade de Chicago graças a uma bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o CNPq. Com isso, fica o questionamento: será que o incomodo do ministro foi realmente pela oferta da bolsa apesar da nota que o tal estudante tirou ou será que foi o ingresso de um “filho de porteiro” ao ensino superior?

Guedes defende o aumento da taxação sobre os livros: “é um produto da elite”.
O ministro da Paulo Guedes defende o aumento da taxa de tributação sobre os livros alegando que este “é um produto de elite, logo, quem o compra pode pagar mais” e, se o livro ficar mais caro, para não prejudicar milhares de leitores, Guedes afirmou que o Governo dará livros de graça para os pobres. (5)
Com essas afirmações de Guedes, e, sabendo que os livros são um dos meios principais de acesso à cultura, podemos chegar a dois questionamentos: 1- o direito ao acesso à cultura, não é um direito legítimo e inalienável de toda a população, incluindo as mais pobres?; 2- será que essa população mais carente precisa esperar a boa vontade do governo escolher e ofertar os livros, sendo que não consegue resolver, de forma digna, os problemas mais emergências existentes no nosso país, como na saúde e na educação?!

Curso Direito Penal – Crimes de Preconceito ou Discriminação Racial
 

“Paulo Guedes sugere que a culpa de o Estado ter “quebrado” é da população que quer viver 100 anos, 120, 130”.
Durante uma reunião do Conselho de Saúde Complementar em abril deste ano, Guedes afirmou que o Estado “quebrou” e que por isso o setor público não terá capacidade de atender à demanda crescente por atendimento na área da saúde, diante da escassez de recursos, conforme divulgado pelo site G1 (5).
O mais chocante foi ver o ministro afirmando que não foi a pandemia que tirou a capacidade de atendimento do setor público, mas sim "o avanço na medicina" e "o direito à vida." Segundo ele "todo mundo quer viver 100 anos, 120, 130 [anos]" e, por isso, "não há capacidade de investimento para que o estado consiga acompanhar" a busca por atendimento médico crescente. Para Guedes, aparentemente a solução para melhorar o sistema de saúde brasileiro é ter menos pessoas vivas.
Essas são algumas das frases ditas pelo Paulo Guedes que mostram que ele possui uma visão preconceituosa em relação às classes mais pobres. Porém, não é apenas o ministro da economia que possui esse pensamento: várias outras pessoas da elite brasileira discriminam as pessoas mais pobres e criticam as políticas públicas estatais, que são um meio para amenizar a desigualdade social e buscar o bem estar social. Enquanto essa visão elitista e segregacionista existir por parte dessas pessoas egoístas que se sentem superiores apenas por terem uma melhor condição financeira, estaremos cada vez mais distantes de alcançar o bem comum e a igualdade social.

Williane Marques de Sousa
Estagiária Unieducar – Estudante de Direito

REFERÊNCIAS

  1. https://exame.com/economia/brasil-e-nono-pais-mais-desigual-do-mundo-diz...
  2. https://oglobo.globo.com/economia/guedes-diz-que-dolar-alto-bom-empregad....
  3. https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/04/30/paulo-guedes-critica-o-...
  4. https://brasil.elpais.com/brasil/2021-04-30/os-filhos-de-porteiros-que-c...
  5. https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2020/08/a-falacia-de-paulo-guedes-...

Nota do editor: os textos, fotos, vídeos, tabelas e outros materiais iconográficos publicados no espaço “opinião” não refletem necessariamente nosso pensamento, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es) as informações, juízos de valor e conceitos divulgados.