Brasil depende ainda mais da China no Governo Bolsonaro

Juracy Braga Soares Junior
Publicado em: seg, 15/02/2021 - 17:15

A história da China tem mais de 3.200 anos. Registros apontam que a origem dessa nação remete há mais de 1.250 anos antes de Cristo. Os países do ‘novo mundo’ - notadamente os localizados nas Américas – são, por assim dizer, adolescentes frente ao gigante asiático. Nosso país não é só um neófito em idade, mas, principalmente em relação à inteligência de utilização de seu potencial econômico.

Vamos então relembrar, em forma de “linha do tempo”, alguns episódios nos quais os chineses foram xingados e atacados por membros do atual governo, até mesmo antes da eleição presidencial de 2018. Essa lista de xingamentos está baseada em pesquisa não-científica, onde recorremos a reportagens de jornais de credibilidade nacional e internacional. Todas as fontes estão devidamente referenciadas ao longo do texto e os links para as respectivas matérias indicados ao final.

2018 – MARÇO: Diplomatas chineses formalizaram carta à Executiva Nacional do partido Democratas, indicando que a visita do então deputado e pré-candidato à presidência, a Taiwan, no território asiático viola o “Princípio de Uma Só China, consenso amplo da comunidade internacional e política explicitamente defendida pelo governo e Congresso”. Esse é o teor de matéria publicada pela Revista Exame no dia 9 de março (1). Certamente muitos dirão: ‘ora, mas ele e os filhos podem visitar qualquer lugar do mundo’. Claro! Mas esse tipo de afirmação só é concebível aos que conhecem absolutamente NADA de Geopolítica, demonstrando completa incapacidade de interpretar o simbolismo por trás do gesto que pode parecer inocente. Basta analisar o impacto que a dita visita gerou junto à Diplomacia chinesa.

2018 – OUTUBRO: Matéria da agência Reuters repercutida pela UOL (2) já apontava preocupação de diplomatas chineses para com as declarações do então candidato à presidência. Segundo a reportagem original, o fato de Bolsonaro ter feito afirmações em tom de alerta do tipo: "Os chineses não estão comprando no Brasil. Eles estão comprando o Brasil" teriam o poder de atrapalhar investimentos chineses no país. Ainda conforme a matéria, o então candidato fez afirmações do tipo ao alertar para o fato de que a empresa China Molybdenum comprara uma mina de nióbio no Brasil por US$ 1,7Bi em 2016.

Vamos aos fatos: Sim, a companhia chinesa Cmoc International, braço internacional da chinesa China Molybdenum (Cmoc) concluiu – no dia 30 de setembro de 2016 - a aquisição de operações de nióbio e fosfatos. A operação havia sido noticiada pela mídia local e internacional, conforme repercutiu o site G1 em sua coluna de Economia e Negócios (3).

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O então candidato Bolsonaro fazia o seu discurso em tom de crítica, como se o seu governo, ao se instalar no Palácio do Planalto, fosse fazer diferente ou fosse, pelo menos desenvolver mecanismos para que as empresas brasileiras pudessem tomar a iniciativa e manter esse tipo de ativo como propriedade nacional.

E o que fez – de fato – o Governo Bolsonaro a respeito da situação? Vamos aos fatos:

2019 – MARÇO: Paulo Guedes em sua primeira palestra como ministro aos empresários americanos, no dia 18, antes do Governo Bolsonaro completar três meses afirmou, nos EUA: “Estamos abertos para negócios. Se vocês forem lá podem comprar várias coisas, podem comprar imóveis”, afirmou o ministro. Ele também ressaltou as privatizações de estatais: “Nós estamos vendendo. Sexta-feira passada nós vendemos 12 aeroportos. Daqui 3 a 4 meses nós vamos vender petróleo, o pré-sal. Estamos abertos para investimentos privados” (4).

2020 – MAIO: Precisamente no dia 22 de maio, Paulo Guedes afirma: “Tem que vender essa porra logo”, referindo-se ao Banco do Brasil. O Ministro apontou que o BB “não é cobra nem tatu”, e sim “um caso pronto para privatização” (5).

Fechando esse tópico sobre nacionalismo, privatizações e ‘ameaças’ pelo fato de os chineses estarem ‘comprando tudo’... Afinal de contas, é pra vender ou não os ativos brasileiros para os estrangeiros? Se for para vender, faz diferença se a companhia é americana ou chinesa? Se você respondeu que sim; que faz diferença e que o melhor seria que – caso o país consiga vender – que seria melhor para uma americana, então é sinal de que você sabe pouco sobre o mercado de ações e a participação de investidores em companhias com presença global. Volte dez casas e aprenda sobre o assunto. 

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2020 – OUTUBRO: O presidente Bolsonaro faz críticas ao que chamava de ‘vacina chinesa’. No dia 21 de outubro, um dia após o Ministério da Saúde afirmar – em reunião com governadores – que compraria a inicialmente 46 milhões de doses do imunizante produzido pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório chinês. No mesmo dia, o presidente mandou cancelar o protocolo de intenções que havia sido firmado pelo ministro Pazuello (6).

2021 – JANEIRO: Bolsonaro muda o tom e afirma que a vacina produzida pelo Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac é “do Brasil; não é de nenhum governador” (7).

2021 – FEVEREIRO: “Nunca fui contra a vacina, sempre disse ‘passou pela Anvisa, compra’”. Com essas palavras o presidente Bolsonaro demonstrou uma nova visão sobre a necessidade de um plano nacional de imunização que atinja toda a população. E ainda completou: “Estamos preocupados com a vida. Se vacinar, a chance de voltarmos à normalidade na economia aumenta exponencialmente” (8).

Bom, fica claro que há uma série de mudanças de opinião e até de direcionamento junto às ações que o governo Bolsonaro deveria ter desenvolvido – junto a laboratórios, por exemplo – desde o início da pandemia. E certamente a tentativa de confrontar a China não foi algo inteligente a ser feito.

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O fato é que a China é o principal parceiro comercial do Brasil há alguns anos. Embora no ano 2000 o gigante asiático não figurasse sequer dentre os nossos 10 maiores parceiros comerciais, o fato é que, coincidentemente – sob o Governo Bolsonaroa China se consolida como nosso maior parceiro comercial, abocanhando 32% de nossa pauta de exportações em 2020, segundo ano de mandato do atual presidente (9).

Já em relação aos Estados Unidos, país junto ao qual o presidente alega que tinha ‘ótimas relações’ junto ao então presidente Trump, a situação é inversamente proporcional. Nossas vendas para os norte-americanos despencaram mais de 27% em 2020, saindo de quase US$ 30bi para pouco mais de US$ 21bi no ano passado. Se junto à China o governo brasileiro fez inúmeros ataques, para os EUA a situação foi inversa. O Brasil zerou tarifas de importação de produtos americanos produzidos por lá, contribuindo para prejudicar a indústria nacional.

O balanço desse período em relação à cooperação com os chineses e os americanos? Bom, enquanto o Brasil foi todo atenção para o governo Trump, nenhum resultado positivo se viu desse – digamos – relacionamento que o nosso presidente alega ter com o 45º presidente americano. Já com a China, há alguns dias o ministro Fábio Faria visitou a China pela Huawei e pediu ajuda para a liberação de insumos para a produção de mais doses da CoronaVac.

O fato é que os chineses são pragmáticos. Enquanto por aqui há muito jogo para a plateia, eles estão interessados em vender o que têm de mais precioso, que é o que nos falta aqui, por absoluta falta de investimentos: Tecnologia. Desde o IFA, que é o Ingrediente Farmacêutico Ativo até a infraestrutura de Internet de 5G, o que vemos – na realidade – é que os chineses estão ‘passando a boiada’ nesse governo, enquanto o país continua à deriva, sem projeto de desenvolvimento a curto, médio e longo prazo.

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O Brasil continua preso na armadilha de vender comodities, já que não tem visão de investir em tecnologia. É um jogo que já começamos a jogar perdendo. Não há futuro para um país que aposta suas fichas na venda de produtos primários, com baixíssimo valor agregado. Enquanto nos vangloriamos em vender soja, que tem preço internacional regulado, os chineses nos ‘passam a boiada’ vendendo tecnologia, impondo o preço que querem, pelo fato de serem um dos poucos que a desenvolveram.

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Prof. Juracy Soares - e-mail: juracy.soares@unieducar.org.br
Fundador da Unieducar Universidade Corporativa. Doutor em Direito; Mestre em Controladoria; Especialista em Auditoria; Graduado em Direito e Contábeis. Certificado em Docência do Ensino Superior; Pesquisador em e-Learning. Editor-Chefe da Revista Científica Semana Acadêmica. Professor universitário e palestrante internacional. Escritor, autor do livro Enriqueça Dormindo.

 

REFERÊNCIAS:

  1. https://exame.com/brasil/a-republica-popular-da-china-nao-gostou-desta-v...
  2. https://noticias.uol.com.br/politica/eleicoes/2018/noticias/reuters/2018...
  3. https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2016/09/30/chinesa-...
  4. https://economia.ig.com.br/2019-03-19/discurso-guedes-eua.html
  5. https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/05/22/tem-que-vender-essa-por...
  6. https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/10/21/bolsona...
  7. https://g1.globo.com/bemestar/vacina/noticia/2021/01/18/apos-dizer-que-n...
  8. https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2021/02/09/interna_politica,1...
  9. https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2021/02/14/cresce-...

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