Publicado em: dom, 07/03/2021 - 12:37
Dia desses postei nos stories em meu perfil no Instagram um vídeo em que lavo pratos em meu apartamento. Naquele vídeo eu não só lavava a louça, como também lavava e sanitizava a pia, como faço há quase 30 anos em que estou casado. No mesmo dia um colega de trabalho encaminhou em um grupo de WhatsApp do qual também faço parte, a reação de sua esposa após assistir ao meu vídeo. A postagem tinha – mais ou menos – o seguinte teor:
- Do colega: ‘minha esposa veio me mostrar o vídeo que o Juracy postou no Instagram lavando pratos, me perguntando por que eu não seguia o exemplo dele. Respondi que o Juracy devia ter feito algo de muito errado para estar agora querendo compensar lavando louça’. E ele ainda arrematou: ‘Meu amor, você prefere um marido não lava a louça, mas você sabe onde está ou um que tem que compensar a esposa por algo que certamente aprontou?’.
Essa conversa – em um grupo com poucos homens – certamente gerou risos e outros comentários. Contudo, são coisas assim – relativamente sem importância – que fundamentam situações muitíssimo mais graves e complexas, como o feminicídio, o bullying e o assédio sexual, moral e institucional. E esse é o teor do que vamos discutir em seguida. Calma! Explico tudo a seguir...
MACHISMO NA EDUCAÇÃO DOS 50+
Estou com 54 anos e por isso sou ‘classificado’ como 50+. Chique não? Nasci no final da década de 1960. Pois é... Ocorre que a geração de meus pais foi criada seguindo a replicação de valores altamente machistas e preconceituosos. As mulheres – que à época passavam mais tempo com os filhos, já que os maridos eram os provedores – eram tão ou mais machistas que os homens. E os valores machistas nos foram transmitidos na educação doméstica de minha geração.
Curso Direito Penal – Lei Maria da Penha
Sim! Minha mãe me criou repetindo expressões do tipo: ‘homem que é homem não chora’. Essa expressão era tão arraigada na década de 1970, que foi até musicada em 1969 pelo cantor Martinho da Vila na famosa “Quem é do mar não enjoa”. Quer ouvir? É só colocar no Google esse argumento de busca: “Martinho da Vila Quem é do mar não enjoa”. Mas atenção! Coloque o nome do Martinho da Vila no argumento de busca, porque senão o Google retorna resultados do Pablo e até do Gustavo Lima, que são recentes e trazem outro tipo de mensagem.
Outras tantas expressões do tipo: ‘homem não veste roupa cor de rosa’; ‘se apanhar na rua leva uma surra quando chegar em casa’; ‘lugar de mulher é na cozinha’; ‘homem não lava louça, pois isso é trabalho de mulher’; e por aí vai. Se você está lendo essas linhas e nasceu após o começo da década de 2000, talvez ache esse tipo de expressão ridícula. E são, com certeza. Mas foi com esse tipo de ‘lições’ que a minha geração foi ‘adestrada’.
Estou aqui culpando meus pais? Não! Essa é uma simples constatação da realidade da época. E o que isso tem a ver com ações machistas como bullying; assédio moral; assédio sexual; assédio institucional; racismo e outras violências em forma de segregação e discriminação como o feminicídio por exemplo? Praticamente tudo, embora não sejam as únicas causas de potencialização dessas chagas sociais.
Lá em cima nesse texto eu faço referência ao fato de que lavo a louça desde que me casei. Sim. E antes disso também, mas foi necessário um processo de aprendizagem, questionamento e posicionamento a partir de minha adolescência, logo após entrar na primeira faculdade aos 16 anos, que essas fichas começaram a cair em minha mente. Eu meio que me posicionei contrariamente a uma série de conceitos (preconceitos) que me foram ensinados na infância e adolescência. Mas muitos outros ainda permaneceram fazendo parte de minha bagagem de valores (e isso será objeto de outro artigo).
Curso Crimes Sexuais e de Feminicídio
É importante, portanto, nos conscientizarmos que esse tipo de transmissão de ensinamentos à minha geração se constituiu no lastro cultural ou de ‘valores morais’ que deram e ainda dão margem a comportamentos execráveis que infelizmente ainda permeiam nosso tecido social.
É nosso dever – portanto – a partir de agora (falo para meus contemporâneos cinquentões), aderirmos a valores humanitários, visando barrarmos a transferência desses comportamentos na geração que queremos deixar. Falo de nossos filhos e netos. Se bem que eles nos ensinam até mais do que ensinamos a eles.
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Prof. Dr. Juracy Soares
AFRE SEFAZ/CE. Diretor de Estudos Tributários da Febrafite.
É professor fundador da Unieducar. É fundador e Editor Chefe da Revista Científica Semana Acadêmica.
Graduado em Direito e Contábeis; Especialista em Auditoria, Mestre em Controladoria e Doutor em Direito. Possui Certificação em Docência do Ensino Superior.
É pesquisador em EaD/E-Learning. Escritor e autor do livro Enrqueça Dormindo.